Tradução da Bhagavadgītā, capítulo 15

Imagem livro Bhagavadgita[11270]

O Senhor Bem-Aventurado disse:

              «Raízes para cima e ramos para baixo,

              assim descreveram a imperecível <árvore> aśvattha,

              cujas folhas são a métrica dos hinos védicos:

              quem conheceu isto, conhece o Veda.

              Os seus ramos são propagados em baixo e em cima,

              desenvolvidos pelas qualidades, e os seus rebentos são os objectos dos sentidos.

              As raízes são difundidas para baixo,

              dimanando nas acções do mundo humano.

              Como tal, as suas formas não são aqui percebidas,

              nem o seu fim, nem o seu início, nem a sua fundação.

              Esta <árvore> aśvattha tem a raiz bem entranhada,

              corta-a com a arma do desapego;

              depois, esforça-te por encontrar aquele lugar,

              do qual, tendo-se lá chegado, ninguém volta para trás, <afirmando:>

              “Eu só me ajoelho perante o espírito primordial,

              a partir do qual este impulso antigo foi propagado!”

              Aqueles isentos de orgulho e equívoco, tendo vencido o vício do apego,

              tendo desistido dos desejos, eternamente <focados> no eu individual,

              desjungidos, pelo reconhecimento, do par de opostos da felicidade e do sofrimento,

              vão, desenganados, para este lugar imperecível.

O sol não o ilumina, nem a <lua> marcada pela lebre, nem o <fogo> purificador.

Esta é a minha excelente morada, tendo lá chegado, não voltam para trás.

Da mesma forma, uma partícula de mim, perpétua, tendo sido individualizada no mundo dos vivos,

lavra os <cinco> órgãos dos sentidos e o sexto, a mente, fixados na natureza.

Esta majestade, que entra e, também, que sai do corpo,

agarrando-os, escolta-os <para fora> do seu recipiente, como o vento aos perfumes.

Dirigindo a audição, a visão, o tacto, o paladar, o olfacto e, também,

a mente, ela frequenta os objectos dos sentidos.

Quer saia, quer tenha permanecido <no corpo>, quer governe acompanhada pelas qualidades,

Os que estão confundidos não a percebem. Vêem-na os que têm a visão do conhecimento.

Os praticantes que se empenham vêem-na posicionada no eu.

Os inconscientes que não se auto-realizaram não a vêem, ainda que se empenhem.

O esplendor que, tendo ido para o sol, ilumina o mundo inteiro,

que está na medida da lua e que está no fogo, esse esplendor, entende, é meu.

Tendo chegado à terra, eu sustento todos os seres com o meu vigor,

tendo a natureza seivosa do soma, eu nutro todas as plantas.

Sendo eu <o fogo> comum a todos os Homens, tendo alcançado a forma física dos que respiram,

eu queimo, aparelhado na inspiração e na expiração, as quatro variedades de comida.

              Estando instalado no coração de todos,

              é de mim <que procedem> a memória, o conhecimento e o raciocínio.

              Ora, sendo eu conhecido através de todos Vedas, na verdade,

              sou eu quem conhece o Veda e quem faz o Vedānta.

Existem dois homens no mundo, o perecível e, também, o imperecível.

O perecível está em todos os seres, o imperecível, diz-se, é aquele que está no seu pico.

Mas existe outro homem ainda mais elevado, chamado de “eu superior”,

o imperecedouro possuidorque, tendo atingido os três mundos, os suporta.

Mas eu, tendo superado o perecível, também sou mais elevado do que o imperecível,

daí ser celebrado no mundo e no Veda como o Melhor dos Homens.

Aquele que, desenganado, me conhece como o Melhor dos Homens,

ó Bhārata, conhece tudo e serve-me com todo o seu ser!

Ó tu Sem Pecado, isto que por mim foi dito é a doutrina mais secreta,

quem acordou para isto, ó Bhārata, está desperto e fez o que devia ser feito.»

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