Admirados pelos seus valores éticos e a sua disciplina de vida formaram um grupo muito especial de monjes que, apesar das dificuldades, mantém o princípio de não-violência, ahimsa, que tanto inspirou toda a índia e importantes líderes como Ghandi. Outros princípios importantes são o de ser verdadeiros, não roubar, não possuir coisas e a castidade.
Não existe um único fundador desta religião, pois os ensinamentos e revelações de cada um dos Tirthankaras ao longo do tempo indicam como chegar à libertação. Estes santos ascetas são os modelos a seguir, porque foram eles que cruzaram e abriram o “vau” (tirtha: vau; kara: fazer) ou também “o lugar sagrado da peregrinação”. Por outras palavras encontraram o caminho para se libertarem. Esses lugares sagrados ou tirthas, no caso dos Jainas, encontram-se principalmente em locais montanhosos.
O que podemos aproveitar deste ponto de vista, nós, ocidentais, filhos de outra cultura e época?
A primeira ideia subjacente é a responsabilidade pessoal. Nenhum ser vai realizar a nossa libertação, é um caminho pessoal, no qual cada um é ator, realizador e diretor do filme da sua própria vida.
A segunda ideia é a de “peregrinação”, ir ao lugar sagrado, ao vau onde se atravessa o rio ou se sobe a montanha. Os textos sagrados afirmam que peregrinar não é só uma questão dos pés, mas do coração e da mente, esta é a peregrinação do “manasa thirtas”, ou seja, sobre tudo a travessia ou superação dos elementos emocionais e mentais. Esses thirtas estão enumerados em muitos dos puranas e no Mahabarata e consistem em caridade, paciência, autocontrole e sabedoria.
Já não se faz uma verdadeira peregrinação, nem mesmo fisicamente aos locais sagrados, pois hoje são locais turísticos, o oposto ao recolhimento interior, porque o verdadeiro peregrino necessita percorrer dois caminhos ao mesmo tempo, o caminho externo e o caminho interno. E é nisso que consiste a magia da peregrinação, fazer com que a alma deixe de ser estrangeira neste mundo, sacralizando ambas as esferas: a interna e a externa, ou seja, a Unidade do Todo.
Hoje pode-se ser peregrino indo talvez para algum lugar próximo, com a única condição de recolhimento ou de uma intensa preparação interna que compense uma falta, no entanto, a distância não é o mais importante, mas o lugar sagrado interno para o qual se vai, porque na verdade já viajamos a mais de 40 km por segundo neste espaço infinito, não importa se vamos para a esquerda ou para a direita, o importante é que no caos mundano não se perca o caminho, facilmente confundido entre tantas palavras escritas e ouvidas na nossa mente.
Basta pensar com a pureza suficiente, determinação e clareza, porque o nosso caminhar de peregrino consiste em colocar os pés firmes em ideias válidas, uma após a outra que nos elevam à montanha da nossa mente … E saberemos, mesmo sem mapa, que o caminho é o correto, porque mesmo que a vida continue a doer, esqueceremos o sofrimento enquanto caminhamos como os Tirthankaras.
Publicado na Revista Seraphis em 29 de outubro de 2020
muito interessante, simples e pefeitamente explicito.
Obrigada