Texto extraído do livro Fruit Gathering, de Rabindranath Tagore.
Dia fatídico! O clarim jaz sobre o pó. Fadigado é o vento. Morta a luz!
Ide, guerreiros, com os vossos estandartes! Cantai, cantores, o hino marcial!
Vinde, peregrinos, de todas os caminhos! Apressai a marcha! Que o clarim à vossa espera jaz sobre o pó.
Seguia eu, a caminho do templo, com as minhas oferendas, em busca de descanso, depois da suja jornada. Desejava curar o sangue das minhas feridas e apagar as manchas das minhas roupas.
Quando vi o clarim, que jazia sobre o pó!
Se calhar, já não era hora de acender o candeeiro da minha tenda?
Por acaso a noite já não havia embalado as estrelas? Rosa, rosa vermelha como o sangue! As papoilas de meu sonho empalideceram e murcharam. Acreditava que as minhas andanças tinham acabado e que, finalmente, tinha todas as minhas dívidas pagas. Quando vi o clarim, que jazia sobre o pó!
Vida! Golpeia novamente o meu coração adormecido da tua juventude! Que a meu regozijo ele se
reanime no teu fogo inextinguível! Raios da aurora, remonta-os sobre o coração da noite! Comove o paralítico de horror, arrebata o cego!
Estou aqui para tirar do pó o teu clarim!
Afaste-se de mim o sonho! Quero desafiar o dilúvio de flechas!… Seguir-me-ão aqueles que, apressados, deixarem as suas casas. Outros chorarão. E estarão aqueles que, impotentes, se contorcem nos seus leitos, entre pesadelos e terríveis lamentações.
Pois nesta noite soará o teu clarim!
Se implorei por descanso, foi só para vergonha minha. Aqui estou! Ajuda-me a encobrir-me com as minhas armaduras, para que os golpes grosseiros do mal lancem chispas da minha vida. E que em meu coração bata o tambor da vitória!
Livres estão as minhas mãos. Posso, com elas, apanhar o clarim!