Nesta voz, funda-se a tripla ciência védica: em sua honra e em virtude da sua grandeza e das suas qualidades. O OM é a voz, a palavra pronunciada e o Canto elevado. Tanto aquele que o sabe quanto aquele que o ignora se movem por ela, embora a sabedoria derive da ignorância. De facto, só é eficaz o rito que se realiza com fé, conhecimento e certeza relativamente às suas correspondências ocultas.
Quanto ao divino, convém considerar-se que o sol lá de cima, cujo calor nos abençoa, também é o Canto elevado. Quando se eleva canta para as criaturas, dissipando a escuridão e o medo. Quem o sabe está livre de medos e de sombras. O alento vital aqui de baixo e o sol lá de cima são uma e a mesma coisa. Se este é quente, então aquele também o é. Acredita-se que aquele é reflexo deste; por isto é que se veneram ambos, o superior e o inferior, como Canto elevado.
OM, uma sílaba retumbante e imortal. Penetrando nela, os deuses evitaram os seus medos. Quem a pronuncia, conscientemente e sem medo, compartilha a imortalidade com os deuses que nela habitam.
O Canto elevado (udgitha) é o OM e o OM é o Canto elevado. O Sol no seu zénite é a sílaba sagrada, que soa quando este se move.
O verso é a terra e o canto é o fogo. O canto repousa no verso e, a partir dele, levanta voo.
Para onde vai o mundo? Vai para o espaço. Todos os seres vêm do espaço e a ele hão-de retornar. O espaço foi o primeiro e nele tudo se há-de dissolver.
Tal é o Canto elevado, sem limite e sem fim. Quem concebe o Canto elevado como espaço infinito obtém o bem supremo e mais precioso, e este, por sua vez, transforma-se no mais sublime e no mais valoroso.
Quem sabe ouvir o canto nas águas não morre, mas encontra a abundância.
Prajapati meditou sobre os mundos, reteve-os na sua mente e dela fez derivar o triplo saber. Pensou no triplo Veda e, desse pensamento, obteve três sílabas: bhur, bhuvas e svar. Meditou sobre cada uma delas e, tendo-as gravado na sua mente, delas emergiu a sílaba OM. Tal como as folhas unidas por uma agulha, assim se encontram todas as palavras no OM. De facto, todo o mundo não é senão o OM.
O Sol no alto é o mel dos deuses. O ar é a colmeia e o firmamento o lugar onde está suspenso. Os lampejos de luz são as larvas das abelhas. Os raios projectados para Este são as células orientais da colmeia. Os versos do Rigveda são as abelhas que produzem o mel. O Rigveda é a flor e a água imortal.
Os raios que o sol projecta para o alto são as células superiores. Os ensinamentos secretos são as abelhas, Brahman é a flor e a água imortal.
Na realidade, os deuses não comem nem bebem, mas saciam-se através da mera contemplação da ambrósia. Penetram nessa qualidade avermelhada e dela emergem.
Toda a criação, tudo aquilo que veio a ser, é a oração Gayatri. O próprio discurso é essa mesma oração, porque canta e protege todas as coisas. Ora bem, esta oração é a terra que pisamos, uma vez que toda a criação repousa sobre a terra e não se estende para além dos seus limites. E esta terra é o mesmo que o corpo da pessoa, cujo interior abriga as funções vitais e nunca se estende para além dos seus limites. E o corpo da pessoa, aqui presente, é o mesmo que o coração, uma vez que estas funções vitais repousam no interior do coração e nunca se estendem para além dos seus limites.
Pensa sobre aquilo a que as pessoas chamam de Brahman: na verdade, não é mais do que o espaço exterior à pessoa. E este espaço fora é o mesmo que existe no interior de cada um. E este espaço que existe no interior de cada um é o mesmo que o espaço interior do coração. Está cheio e não se esgota. Quem compreender isto desfruta de uma bem-aventurança plena e inesgotável.
A luz que brilha no mais alto céu, em todas as partes e sobre todas as coisas, é a mesma que brilha no interior da pessoa. Vemo-la, quando, ao tocar o corpo, sentimos o seu calor interno. Ouvimo-la, quando, ao taparmos os ouvidos, ouvimos um zumbido ou um fogo ardente. Deve-se cultivar a visão e a audição desta luz interior, que gera a fama e a beleza.
Na verdade, Brahman é todo este mundo, fá-lo surgir, sustém-no e dissolve-o. É conveniente meditar sobre ele, mantendo-se a tranquilidade interior.
Uma pessoa é a sua determinação. Não restam dúvidas de que a natureza humana é feita de intenções. Dessa vontade dependerá aquilo em que se converterá depois da morte.
Este meu atman, que jaz no fundo do coração, contém todas as acções dos seres, todos os desejos, todos os gostos e cheiros; compreendeu todo este mundo, mas não fala nem presta atenção. Este meu atman é Brahman. Quando eu deixar esta vida, tornar-me-ei nisso. Quem cultiva tais pensamentos não é assaltado pelas dúvidas.
Austeridade, generosidade, integridade, ausência de violência e veracidade: tais são os dons do sacrifício.
O conhecimento conduz com segurança até à meta apenas quando é recebido de um mestre.
A alegria é o mesmo que o espaço e o espaço é o mesmo que a alegria.
O sacrifício é o vento que purifica o mundo. Movendo-se, o vento limpa os mundos. E uma vez que purifica o mundo enquanto se move, é associado ao sacrifício. A sua direcção é a mente e a palavra.
Aquele que conhece o melhor e o maior, converte-se no melhor e no maior. O melhor e maior é o alento vital.
Aquele que conhece o excelentíssimo, converte-se no excelentíssimo entre os seus. O excelentíssimo é o discurso.
Aquele que conhece o que é firme, estabelece-se firmemente neste mundo e naquele que está mais além. A base da firmeza é a visão.
Aquele que conhece as correspondências que existem entre as coisas, cumpre os seus desejos, tanto divinos quanto humanos. A correspondência é o ouvido.
Quem, na verdade, conhece a natureza da protecção, converte-se em refúgio para o seu povo. O melhor dos refúgios é a mente.
O homem também é fogo. O combustível é o discurso, o fumo é o seu alento, a sua chama é a língua, as suas brasas são a visão e as suas fagulhas são a audição. É neste fogo que os deuses oferecem alimento, e desta oferenda surge o sémen.
As abelhas fabricam o mel sugando a substância em diferentes plantas. Quando a convertem em néctar já não é possível conhecer a sua origem: não se pode dizer “esta substância é daquela planta”. Da mesma forma, meu filho, todas as criaturas do mundo, embora estando fundidas na Unidade, ignoram-no. O tigre e o leão, o lobo e o javali, o verme e a borboleta, a mosca e o mosquito, todos se fundem nessa essência subtil que é aquela de todas as coisas, a única verdade. Isso é atman, e isso és tu.
Compreende bem isto: quando a vida o abandona, o corpo morre, mas a vida em si mesma não morre. É a essência subtil de todas as coisas, a única verdade. Isso é o atman, e isso és tu.
A meditação (dhyana) é superior ao pensamento. Pois a terra parece meditar, a região intermédia parece meditar, o céu e as montanhas parecem meditar, os deuses e os homens meditam. Daí que os homens eminentes considerem os benefícios do recolhimento e obtenham os frutos da meditação.
Quando se obtém a satisfação e o bem-estar, age-se. Sem essa satisfação não se age; só se age se a bem-aventurança for obtida. Por isso, se queres compreender, deverás cultivar a bem-aventurança. Ora, a bem-aventurança não é senão a plenitude. Na escassez não há felicidade, ao contrário do que ocorre na plenitude. Portanto, se queres compreender deverás cultivar o pleno. (…) A plenitude está em cima, em baixo, está a norte e a sul, a levante e a poente. Na verdade, a plenitude estende-se por todo este mundo.
O atman é uma ponte entre dois mundos, bem como a linha que os separa. Esta ponte não é cruzada pelo dia e pela noite, pela juventude e pela velhice, pela doença e pela morte, pelo vício e pela virtude; ele abre caminho através do mal, do qual Brahman está livre. Por isto, depois de a ter atravessado, o cego vê, o doente cura-se, o afligido esquece a sua aflição. Para quem o cruza, a noite parece dia, pois Brahman brilha sempre. O seu mundo pertence a quem cultiva a ciência sagrada e, instalado em Brahman, viaja livremente por todos os mundos.