Filme Samsara

Imagen destacada Pandava

O que significa Samsara? Para os Budistas, é a roda das reencarnações, mais especificamente, significa movimento e mudança. A sua rotação (movimento) provém de uma força primordial que deu origem ao movimento de causa-efeito – também conhecido como a Lei do Karma – que está em constante movimento e que guia a Mónada, o Espirito, para o oceano da vida e da morte. O seu grande propósito é libertar a alma da produção kármica, quebrando as algemas da roda e a necessidade de renascer. Apesar disto, o Karma força a alma a entrar no reino da matéria, por forma a ganhar a experiência necessária para atingir a sua origem divina e a sua iluminação. Atingindo este propósito, a alma não mais necessita de entrar no mundo material.

Mural da Roda da Vida (Trongsa Dzong) no Butão. Licença de Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0

O Buddha é um modelo de homem encarnado que atingiu a divindade, que se libertou dos elos da roda do Samsara. Para atingir este feito, ele teve de, primeiramente, se libertar das suas antigas riquezas e glórias (ele era um príncipe de um pequeno reino) e abandonar a sua esposa e filho na busca do seu Dharma. Ele submete o seu corpo a terríveis privações e dificuldades, mas, mesmo assim, não conseguiu encontrar a paz no seu coração; até que um dia, sentado debaixo da árvore de Bodhi (árvore da sabedoria), ele ouve a canção de uma mulher que o salvou, oferecendo-lhe uma humilde refeição.

quando as cordas da vina estão muito apertadas, elas partem-se, e quando estão muito soltas, não produzem som.

Ele foi iluminado e descobriu as Quatro Nobres Verdades, que conduzem ao Caminho do Meio, o Caminho da Lei do Dharma.

  1. A primeira verdade refere-se à dor. Todas as coisas manifestadas são submetidas à dor;
  2. A segunda refere-se à causa da dor; esta é a Maya deste mundo; ela toma as coisas como reais e eternas, mas que, na realidade, são instáveis e enganosas;
  3. A terceira verdade refere-se à eliminação da dor, que apenas pode ser alcançada quando a sede de viver é transformada num maior nível de consciência;
  4. A quarta verdade é como cumprir esta tarefa. É designada de “Os oitos nobres caminhos” que conduzem à eliminação da dor e que incluem os seguintes passos: observação correta, intenção correta, discurso correto, ações corretas, subsistência adequada, esforço correto, pensamentos e concentração corretos.

Este filme é sobre a dor e o prazer. O amor e a luxúria vacilam entre estas duas condições. E é devido ao amor que uma alma desce dos céus à terra, ao reino de Maya. Dor e prazer são, em muitas ocasiões, os dois lados de uma mesma moeda. Poderão existir um sem o outro?

Deusa Maya

O protagonista é um monge, que aos 5 anos se juntou a um mosteiro, onde se aprisionou por 3 anos, 3 semanas e 3 dias. O número 3 é um número sagrado para o budismo. Ele representa o Espírito Superior, o Triplo Logos Solar. O Triplo é a expressão da Unidade Vontade, Amor e Inteligência. Três anos mais tarde, o seu mestre e outros monges visitaram-no. Eles encontraram-no num estado físico deplorável, não era mais do que um esqueleto. No entanto, ele havia dominado o seu corpo para não o prejudicar nos seus exercícios de meditação. As suas funções físicas estavam funcionais, apesar da ausência de consciência. O seu cabelo era cumprido e seboso e as suas unhas tanto dos pés como das mãos eram grandes e finas. O sacerdote limpou-lhe o corpo para que o espírito pudesse regressar das esferas da sua jornada e encontrasse a paz. Os outros monges honraram-no e respeitaram-no pelos seus esforços.

De repente, nada disto importa para ele, enquanto ele vê uma mulher a amamentar o seu bebé. A luxúria dentro dele transborda e por mais que ele a tente esconder, ela acaba sempre por aparecer nos seus sonhos e vagarosamente lança-lhe sombras de dúvida.

Para os budistas, a manifestação do espírito não está apenas relacionada com o corpo físico. Há também o corpo astral das emoções (Linga Sharira) e o corpo mental, a mente dos desejos (Kama Manas). O monge pode ter dominado, temporariamente, as funções do seu corpo físico, mas isso não significa que ele tenha derrotado o campo material, pois há mais 3 formas subtis de aprisionar o espírito. Ele sente intensamente as necessidades destes corpos e não consegue lutar contra elas.

“Até a Ele (Buddha) lhe foi permitida uma existência mundana até aos 29 anos! Mas desde os 5 anos eu fui disciplinado a viver como o Buddha, após ele ter renunciado o mundo. Porquê? Como podemos saber se a sua iluminação não é resultado direto da sua vida mundana?” perguntou ele ao seu mestre.

“…onde está a liberdade que me foi prometida, depois de uma restrita disciplina monástica? Onde está a recompensa pelo nosso voto de celibato?”

Assim fala a alma aprisionada, cheia de desejos. Ela quer viver, sentir, amar, ser magoada. Ele recorda as palavras de Buddha:

“Tu não deves aceitar os meus ensinamentos como meros dizeres, até que estejas pronto para os compreenderes a partir do teu ponto de vista.”

Ele decidiu abandonar a vida monástica dizendo: “Há coisas que temos de desaprender para as aprender de novo. E há coisas que temos de possuir para lhes podermos renunciar.”

O significado da evolução, na compreensão budista, está contido nesta frase. A alma esquece a sua origem divina para aprender através da experiência. Quando entra em contacto com a matéria e possuiu coisas, elas tornam-se na sua prisão; mas só depois disso é que ela as consegue renunciar e libertar-se da sua necessidade. Ela ganha consciência da sua origem divida. Ela atingiu o seu objetivo.

Capa do filme.

Assim, o protagonista deixa, sem anunciar, o mosteiro durante a noite, tal como Budha deixou o seu palácio. Mas, ao contrário de Budha, ele não parte para salvar a sua alma, mas sim para a encontrar. Casa-se, tem filhos, torna-se agricultor, luta para viver, enfrenta exploradores que o tentam enganar, experiencia todos os bons e maus momentos de uma vida normal. E depois comete um pecado comum: o adultério.

Este pecado leva-o para uma segunda crise. Ele está desapontado consigo mesmo, pelas suas más escolhas; ele sente que não está a evoluir e que se esqueceu da luta contra os seus desejos e erros. Mais uma vez, ele decide partir. Abandona a sua esposa e filho, partindo, à noite, sem aviso, e regressa ao mosteiro, para acalmar a sua mente sob a proteção dos espíritos e aconselhamento do seu mestre. Ele ganhou experiência; agora ele sabe…

No entanto, ao virar da rua espera-o a sua mulher. Ele gerou karma, ele criou laços e tais laços não podem ser quebrados do dia para a noite.

“Yashodhara… Conheces este nome? Príncipe Siddhartha, Gautama, Shakyamuni, Buddha. Toda a gente conhece estes nomes. Mas Yashodhara?”

Yashodhara foi casada com Siddhartha. Ela amou-o profundamente. Certa noite, Siddhartha deixou-a, a ela e ao seu filho, Rahula, para procurar a iluminação e tornar-se Buddha. Ele nem lhe disse uma palavra quando a abandonou. Yashodhara demonstrou compaixão pelo sofrimento e doença muito antes de Siddhartha ter consciência do sofrimento! Quem poderá dizer se a sua iluminação não foi oferecida por ela?…” estas palavras rasgaram a sua alma, tornando a decisão ainda mais difícil. Ele não pagou o karma que criou e foi chamado de volta. Ele arrependeu-se e compreendeu a sua dívida, mas a sua mulher libertou-o dela. Ela parte dizendo uma grande verdade.

“Se os teus pensamentos para com o Dharma tiverem a mesma intensidade como o amor e a paixão que me demonstraste, tu tornar-te-ás num Buddha neste corpo, nesta vida.”

Ela já não é a sua esposa, ela é um símbolo da sabedoria da nossa alma. Ninguém lhe pode esconder nada. Então, quais são os desejos que devemos controlar? Talvez o desejo da satisfação que incorpora em si milhares de desejos…

Então, o filme acaba, mas a jornada do protagonista começa agora.

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