Dicas de Meditação

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Não há tarefa mais difícil para a mente ocidental do que o cumprimento do dever da meditação. Não quer dizer que os ocidentais não consigam pensar, não consigam refletir, mas nenhuma destas é a mesma coisa que meditação.

Os nossos irmãos orientais, com as suas mentes de profunda penetração metafísica, dificilmente poderão compreender as dificuldades a que acediam os ocidentais no preenchimento deste hábito necessário, se desejamos trilhar o caminho da auto evolução.

Meditação é, amplamente falando, de dois tipos: ativa e passiva.
O primeiro obtém-se nos primeiros estágios, o segundo, mais desenvolvido, quando o cérebro ativo se mantém imóvel, e o ser interior se abre à Luz Divina.

As breves meditações que se seguem, poderão, possivelmente, dar ao noviço alguma ideia de como começar a meditar. Elas encontram-se nas oito nobres virtudes, enumeradas na Bhagavadgita (XVI discurso) e foram o resultado de um esforço inicial, por parte do escritor, para seguir algumas das primeiras instruções sobre os corretos métodos de meditação.

As notas são muito simples, muito elementares, mesmo fragmentadas; mas se podem representar alguma ajuda para um iniciante, o seu objetivo estará servido. O escritor ficaria contente pelo pequeno auxílio que estas representassem nos primeiros esforços em direção à meditação fundamentada: e isto poderá ser uma desculpa pelo fato de aparecerem na sua presente forma.

I. Destemor

Essência:
Destemor vem da coragem nascida do conhecimento. Aquele que sabe o trabalho de todas as coisas, ambas naturais e espirituais, não pode ter Medo, por isso verá o fim a partir do início.

Valor:
Destemor produz um balanço estável da mente. Permite estimar elementos de conflito nos seus verdadeiros valores: Confere um justo julgamento na ação, quando é moderado pela cautela.

Lugar na Natureza:
Todos os elementos da Natureza se movem de maneira designada, em verdadeira harmonia; para que assim um ingrediente nesta harmonia não possa temer outro ingrediente.

Verdade, isto na criação animal, medo é para ser visto, mas isto aparece porque uma preponderância indevida foi marcada num ou outro momento por um animal de natureza mais inferior em relação a outro da sua espécie. E por esta interrupção na verdadeira lei da Natureza, por terem inicialmente quebrado a harmonia, não será o Homem o culpado?

Lugar na Evolução Pessoal:
Para fomentar o Destemor, primeiro temos de esvaziar os gostos e desgostos pessoais – de falsos encontros; temos de nos sentir um com a Natureza; à medida que se desenvolve e cresce neste sentido, perde-se o Medo que vem com a ignorância e assim enfrentar todas as coisas em qualquer dos mundos, com equanimidade e coragem.

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II. Pureza do Coração

Essência:
Altruísmo puro, com o amor de tudo o que é mais elevado, melhor, e mais belo. Isto incluí o amor reverencial para com os Mestres Sagrados, que lidera o esforço para alcançá-Los, e às Suas perfeições. É um espelho limpo, que escolhe refletir apenas o que é sagrado e verdadeiro.

Valor:
Se as mãos não estão limpas, é impossível manipular qualquer trabalho fino ou delicado, sem o sujar; se o coração não está puro, como se aventuram a alcançar o sublime? Se o olho não for único e claro, como poderá ver Deus?

Lugar na Natureza: 
Natureza, quando imaculada pelo mal, é absolutamente pura. A ternura translúcida do sol no seu nascimento diário; a clara glória da sua esplêndida partida; o escuro brilho profundo do céu à meia-noite; a pura calma das águas, dos rios, lagos, ou mar; os sons da voz da natureza de crianças inocentes, quer da flor, pássaro, animal, ou homem; cada um e todos, quando intocáveis pela sobra escura da desarmonia, são eventualmente puros nas suas ações.

Lugar na evolução da  pessoal: 
Quanto mais a pessoa purifica a sua natureza e procura desenvolver o ‘coração de diamante’ a sua vida se tornará mais brilhante; ela terá maior capacidade de refletir toda a luz, toda a cor do Raio Divino, como se passasse através dele, e o mal à sua volta terá menor capacidade de lhe tocar ou sujar o seu coração.  Para ele não se tornou apenas brilhante, mas firme como um inflexível? Então, pode ter esperança real de aproximar-se da pura glória dos ‘Grandes Corações’ que ganharam o estado de Adepto, e que sabe o que significa a ‘Joia de Lótus’.

III. Firmeza no Yoga

Essência:

Yoga é união. Com quê? Com a Alma Divina, Sabedoria, o chefe dos atributos Divinos. Aquilo que vem de cima, para lá deve regressar, à sua fonte e, no seu retorno, sobe com ele purificando o elemento humano do qual se apoderou. Esta união com o Divino, a Sabedoria do conhecimento, Vidya que é a essência do Yoga.

Valor: 
Ser firme implica não estar virado nem para a mão direita ou esquerda, apenas um único olho, inabalável do objeto que já foi antes definido – ou seja, para atingir Sabedoria, o Deus no homem, o EU.

Lugar na Natureza: 
Muitas coisas na Natureza tem uma firmeza própria, o hábito, como era, de desempenhar as mesmas funções repetidamente. Por isso: “tempo de sementeira e colheita, verão e inverno, dia e noite, nunca falha”. Toda a natureza esforça-se depois da união com o Divino para preencher cada tarefa designada; e no correto preenchimento de cada um, a Natureza aproxima-se cada vez mais da Fonte Divina, de onde todas as coisas surgiram.

Lugar na evolução da  pessoal:
Para ser sincero é uma atitude mental, que não pode ser subavaliada. A tibieza é um processo de cessação que muitas vezes termina em morte; para ser sincero, é permitir que nada se coloque no caminho para atingir o objetivo destinado. E quando o objetivo é o ‘Yoga’, quem pode medir a sua importância!

Aqueles que ‘seguem em frente’ devem ‘saber’; eles devem ver; eles devem ouvir; e por isso devem tornar-se ferramentas adequadas para o serviço nas mãos do Mestre.

IV. Esmola

Essência:

Deve ser dupla. A esmola digna, incluindo toda e qualquer partilha de posses com os outros, nasce por vezes da pura pena e compaixão e, às vezes, é comum chamar-se de socialismo. A sua essência descansa no coração do Divino de onde provém o desejo pela própria limitação e própria manifestação, partilhar tudo de Si com a Natureza que Ele próprio criou.

Valor :   
Para trazer alívio àqueles que passam necessidades; adquirir a maior felicidade para o maior número; ensinar abnegação no dador; humildade e gratidão no recetor.

Aquilo que é dado e custa ao dador nada, não é a verdadeira esmola; aquilo que, então aceite, é secretamente ressentido em orgulho não é receber verdadeiramente. Não é o ‘dar e receber’ princípio da Natureza; e assim, tanto quem dá como quem recebe deixam de participar na verdadeira harmonia da esmola correta.

Lugar na Natureza:
Toda a Natureza segue o princípio de ‘dar e receber’. O solo nutre a semente plantada, em resposta a vegetação brota; o sol brilha, a terra responde a sorrir; a chuva cai, a beleza irrompe imediatamente do seu recetor; o vento sopra, a terra é purificada; e assim sucessivamente.

Lugar na Evolução Pessoal: 
Até que se supere o egoísmo a alma não pode desejar nada para a sua posse pessoal, mas partilhar tudo de bom com os outros, assim não pode ir verdadeiramente de encontro à perfeição. Porque verdadeira é a palavra “aquele que perde a sua vida, deve encontrá-la” e à medida que aprende a largar todas as coisas doces e preciosas, para que o irmão possa partilhar da sua doçura e preciosidade, então será preenchido na mesma medida; mas deve entregar primeiro, sem qualquer pensamento de retorno, por detrás da alegria de fazer o bem.

V. Autocontrole

Essência: 
Deus, o Todo-Poderoso, na Sua auto limitação, implica autocontrole. Os processos da Natureza através das quais Ele se manifesta Ele próprio não é repentino. Tudo é gradual e contido. Crescimento e perfeição, não vem num momento. Pensa nas idades que foram empregadas na evolução do homem sozinho. Porquê este controle quando todos foram apressados numa fração comparativa de tempo?

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Valor:    
Aquilo que é feito às pressas, é normalmente ineficiente. Apressar uma força, antes de o possuidor dessa força estar preparado para a exercer, é ferir o possuidor. Como, por exemplo, correr com um potro com menos de dois anos é arruinar a sua oportunidade de nunca fazer nada bem, afinal, e com certeza, poderá custar a sua própria vida. Estudar uma mente jovem com conhecimento também profundo para que os seus poderes realmente compreendam, é debilitar essa mente no futuro. Portanto, o autocontrole é necessário na evolução da Natureza, para que tudo seja perfeito, e colocado no seu devido lugar.

Lugar na Natureza:    
Já citado anteriormente.

Lugar na Evolução Pessoal: 
Há aqueles que querem correr antes de puder andar; quem leria linguagem abstrusa antes de ter aprendido as letras; quem desejaria subjugar os poderes da Natureza, antes de se subjugarem a eles mesmos. Mas alguns de nós aprendemos que conhecer o penoso autocontrole é o único método para o real avanço. Pela mesma razão, eu penso que é melhor não nos “esforçarmos para nos elevar-nos muito alto” duma certa maneira. A tensão da corda mental deverá ser demasiado grande para a corda aguentar, até que todas os seus fios sejam perfeitos. Então, com paciência, com incessante trabalho devemos esforçar-nos para trazer a nós próprios numa condição em que todas as possibilidades deverão ser nossas: contentar-se em esperar, se tal for o seu desejo, cujos discípulos desejamos ser; ou em outras palavras, se o karma então organiza o nosso presente e futuro.

VI. SACRIFÍCIO E ESTUDO DOS SHASTRAS

Essência:
A essência do sacrifício é primeiro, no Divino Senhor que, para se manifestar, limita Ele Próprio no Logos, daí derrama-se a Si mesmo para baixo, através de todos os graus da vida.

Segundo, no Logos quem subiu dolorosamente passo a passo o degrau da vida e agora fica acima de toda a humanidade, para dar o que Ele obteve.

Terceiro, o Observador Silencioso: Ele, o maior neste Manvantara, que alcançou Nirvana e fechou-se à sua luz, vida e felicidade perfeita, pois Ele deve guardar e ajudar este globo, com os seus imensos habitantes.

Quarto, e assim por diante, através de todas as Hierarquias Divinas, até aos Mestres da Compaixão em cada estágio.

Valor:
Nesses altos e poderosos, o seu valor parece ser que a sua maior bênção e glória, deverá descer para o maior número. O mesmo objeto parece obter em todo o sacrifício, vantagem para alguma pessoa ou pessoas, às custas de si mesmo.

Lugar na Natureza: 
Sacrifício é a chave da natureza. Sem esta, nada pode viver ou crescer. Mineral, vegetal, animal, homem, todos têm de dar alguma coisa de si próprio, para o benefício de alguém. A vida surge da morte – surge do sacrifício.

Lugar na Evolução Pessoal:    
Isto é percetível, que na enumeração de Krishna das qualidades celestiais, sacrifício deve estar combinado com o estudo dos Shastras. No mesmo sentido, uma das formas do sacrifício Hindú é o sacrifício ao conhecimento. Daqui surge a ideia de que a dor e a dificuldade devem acompanhar a aquisição do verdadeiro conhecimento quer seja divino ou mundano. O velho ditado é verdadeiro: “Não há caminho de realeza para aprender.”. O hábito continuo da meditação nas suas mais altas formas de conhecimento, envolve a correspondência do tempo sacrificado, quer para a família, até ao mais querido objeto de afeto, ou para a humanidade como um todo, é verdadeiro sacrifício apenas quando não é acompanhado de desejo por nenhum pensamento de recompensa; apenas amor puro e altruísta é a fonte do movimento.

Se continuamos a desejar subir mais alto, deixar tudo o que fazemos pelos outros tem o seu ingrediente principal de amor ao serviço e dever, com humildade e alegria rendidos à queles Grandes que são Eles mesmos os amantes de toda a humanidade, e que pela razão do seu total auto sacrifício são nomeados os Mestres da Compaixão.

VII. Austeridade e Franqueza

Essência:
Austeridade não significa severidade, no sentido da severidade rígida com os outros, mas sim um rigor inflexível no auto julgamento, não permitindo uma única brecha de fuga no caminho da retidão absoluta, enquanto tolerante e flexível às necessidades, aos sentimentos, e mesmo às falhas dos outros. A Sua Essência está na Lei que não pode ser revertida, nem substituída, mas aquela que deve trabalhar o seu trabalho, apesar de qualquer e todo o obstáculo.

Valor:
Estreito é o portão, estreito é o caminho. Não há enrolamentos tortuosos no caminho ascendente. Aquele cujo olhar é fixo diretamente diante dele, não virando nem para a mão direita nem a esquerda, verá o objetivo no final do Caminho. É claro, outro aspeto da franqueza, aquela que envolve verdade absoluta no pensamento, palavra e ato, mas estas são incluídas no termo geral acima.

Lugar na Natureza: 
Muito significativas são as formas da natureza. Sem divergência; um objeto, na mais elevada evolução; cumpre rigidamente o seu dever, seja o sustento de vida no mais ínfimo átomo ou na dilaceração e aparente destruição de tudo o que impede o aperfeiçoamento final.

Lugar na Evolução Pessoal:
Mesmo assim – o que a natureza faz inconscientemente em obediência à Grande Lei, cada homem deve fazer conscientemente para o seu próprio eu. Promover, construir, valorizar todos isso é bom, sagrado e verdadeiro; mas cortando, arrancando pelas raízes, reduzindo a cinzas, tudo o que se opõe ao bem, sacralidade e verdade. Franqueza no Eu Superior; austeridade sempre para o eu inferior. Somente assim o Caminho pode ser percorrido com segurança.

VIII. Inocuidade

gray monk statue in between plant pots
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Essência: 
A ausência do desejo de causar dano a qualquer ser vivo, juntamente com o desejo de beneficiar todas as coisas vivas, dentro do nosso seu alcance, e até mesmo além do que é geralmente reconhecido como estando ao nosso alcance. A inocuidade é uma virtude menos positiva do que negativa, embora haja nela alguns elementos de positivos. Não deve, no entanto, ser confundido por descuido ou inércia – o tipo de hábito de quem não se preocupa muito com nada ou que leva as coisas facilmente deixando-as passar.

Valor: 
A inocuidade pode estar associada a grande poder.
O exemplo de Jesus – o Cristo – que é descrito como ” inofensivo” bem como “santo e imaculado”. Nós sabemos como grandes eram Seus poderes como o Cristo manifestado. Nos tempos modernos também ouvimos falar de alguém que é tão inofensivo, que é descrito como o tipo de homem para quem um cão perdido correria para se abrigar. Ainda isso é um homem que exibiu poder anormal na cura de doenças, e por outro lado beneficiando os seus semelhantes. Na verdade, pode dizer-se que nenhum trabalho grande nem duradouro pode ser feito sem a elemento de inocuidade formando uma parte proeminente disso.

Lugar na Natureza: 
Em todos os processos puramente naturais, não há nenhum ingrediente prejudicial. Somente quando a natureza é distorcida do seu habitual trabalho inofensivo, essa desordem, e subsequentes danos ocorrerão. E mesmo assim, depois de um período mais longo ou mais curto de agitação, o poder da natureza de trabalhar de forma benéfica e inofensiva, reafirma-se, e tira proveito daquilo que na época parecia certamente mal.

Lugar na Evolução Pessoal: 
Em toda ação humana o eu inferior tende a ser o fator principal, portanto – egoísmo. E o egoísmo é ser mais ou menos prejudicial para aqueles que nos rodeiam. Para nos apoderarmos das coisas terrenas, temos de necessariamente privar alguém e, muito possivelmente, o prejudicar. Não é assim na aquisição das coisas da vida superior. Aqui há espaço suficiente para todos e ninguém precisa de ficar no caminho do outro. Só devemos ter cuidado para que o nosso desejo pela posse das coisas celestiais não seja para nós mesmos. Se assim for, não podemos ser inofensivos no uso de poder espiritual. Existe de fato a Magia Negra; e o mal causado por alguém que usa poderes para si mesmo só pode ser estimado na sua totalidade no longo prazo das eras. Vamos cultivar em nós mesmos esta doce e terna inofensividade, que se manifesta em atos de consideração para com todas as coisas vivas.

Este corpo retornará em breve à terra – a sua forma destruída, seu espírito fugido – porquê então cobiçar tal morada? É a mente que faz a sua própria morada; desde o início do tempo a mente, refletindo sobre os maus caminhos, ela própria corteja a sua própria miséria. É o próprio pensamento que faz (sua tristeza). Nem um pai ou uma mãe podem fazer muito; se apenas os pensamentos fossem direcionados para o que é certo então a felicidade necessariamente fluiria. Escondendo os seis apetites, como a tartaruga esconde os seus membros, guardando os pensamentos como uma cidade cercada por uma vala, então o homem sábio na sua luta com Mara certamente conquistaria libertando-se de toda a miséria futura.

Dhammapada

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